Minhas sacolas balançavam no compasso de minhas pernas, e os fracos raios sol aqueciam meus braços desnudos.
Estava estranhamente feliz, vendo meu bairro como se fosse pela primeira vez, fitando lentamente os rostos que por mim passavam.
Finalmente não estava em um ônibus lotado, cultivando ódio por pessoas fodidas como eu, que sem querer acabavam por me socar como massa de pão. Mas naquele dia estava satisfeita com a vida simples.
Depois de caminhar um pouco vi um carrinho com bonitos cachecóis, meias e luvas também. Enquanto olhava fui impedida de ver todos os produtos, pois num sopro as coisas estavam sendo ensacadas violentamente. No meio das pessoas que se aglomeravam, vi no rosto de uma senhora preta o motivo.
As mãos enrugadas, levadas à cabeça, seguravam desesperadamente os cabelos. As lágrimas umedeciam seu rosto chutado pelo tempo e pelos sofrimentos.
- Pelo amor de Deus não leva minhas coisinha não, é tudo que eu tenho!
- Pelo amor de Deus não leva minhas coisinha não, é tudo que eu tenho!
Parei para que os leões me comessem por dentro sem estardalhaço.
Meus olhos boiavam como dois mortos diante da brutalidade e injustiça. Os homens que protegem a gente agiam mecanicamente, e cheguei a desconfiar se eram mesmo humanos.
Um com cara de pedra segurava a mulher e respirava um ar de dever cumprido, o outro com cara de paisagem guardava os pertences que mais tarde serviriam de presente para seus amigos e familiares.
Um com cara de pedra segurava a mulher e respirava um ar de dever cumprido, o outro com cara de paisagem guardava os pertences que mais tarde serviriam de presente para seus amigos e familiares.
Minha impossibilidade de agir, arrancou-me os braços. Minhas sacolas estavam no chão assim como aquela mulher.