Catarina mulher formosa, era olhada por todos. Independente dos interesses, homens e mulheres a cobiçavam. Os pés pequenos e delicados de uma criança carregavam o corpo saliente de uma serpente envolvente, e perigosa. Olhos latentes, boca delicada, cintura fina e o emaranhado dos cabelos tiravam do caminho até os homens mais convictos.
Catarina não era mulher de um homem só, liberta, se entregava a quem aparecesse desde que este lhe despertasse desejos e tivesse algo distinto dos demais - com quem já se deitara.
Mas tinha uma sina - algo que independia do querer. Não só entregava o corpo, mas também o coração, a cada leviano que por sua vida passava.
Se doava a todos e não se doava a ninguém, amava a todos e não amava a ninguém.
Mulher intensa sofria as dores de um câncer, quando seus amantes de poucos momentos iam embora. Passava dias equivalentes há anos amargando o abandono e a solidão, fazendo da melancolia sua fiel companheira.
Nua, vagava pela casa como uma alma penada confundindo os cômodos, os olhos partidos não guiavam seu corpo sem vida, sem a sombra de um amor. Bebia as lágrimas e alimentava-se das lembranças, do cheiro que ainda permanecia no travesseiro...
Juntos eram irracionais, dois corações insensatos que cediam a tudo que o corpo pedia. Lembrava-se de tudo nos mínimos detalhes, lembrava até perder a memória. Até a tristeza lhe cansar e fazê-la adormecer.
Depois do temporal Catarina voltava mais radiante, sua beleza e juventude tinham mais viço - renovada para o próximo furação. Que fugazmente seria digno de seu corpo, seu coração e sua dor.