sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O menino velho

Por que será que você não se lembra de ontem e de anteontem? Será que é a premissa de que ficará com alzheimer como seu pai? Ou será que é por que não há nada novo para lembrar?
Me afogo no sofá e ouço o seu passado que sai da sua boca com ares coloridos, mesmo nosso presente sendo assim meio preto e branco, novo e velho.

Não que seja ruim, não é. Gosto do teu cortejo, seus dedos estrangulando as cordas do violão, para me dizer o que você não consegue.

Com seus cabelos nublados e seu sorriso de sol, anda pela casa com sua pele verde, seu cheiro de mato. Agora sou seu pássaro que canta.

Queria ter te conhecido jovem, comendo menina na água salgada com saliva doce... Olhando tudo com curiosidade. Agora esses olhos são meus e não seus.

Porém, as suas façanhas não se comparam às minhas. Transar com travesseiros na cara. Depois de não aceitar percebi que nossos corpos se sentem e não precisam se ver, até porque a cara nos trai colocando palavras mudas na nossa boca.

Seus anos de vida caem sobre o meu corpo, que exala excitação, e quando me viro você já se foi, só está a sua voz a cantarolar. Meu corpo ardendo em flor e seu inverno que não passa.


Será que já entregou flores a alguém? Não sei. Mas se o fez, deu e saiu correndo afobado, levando os espinhos na mão. E como um menino desprotegido chorou e amou escondido debaixo da cama, de onde não saiu até hoje.

5 comentários:

  1. muito ...loco > Será que já entregou flores a alguém? Não sei. Mas se o fez, deu e saiu correndo afobado, levando os espinhos na mão.#talento não se discute ... ta sumida ei paz...

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  2. "... E como um menino desprotegido chora e ama escondido debaixo da cama. Até hoje."

    Tu consegue confundir os esclarecidos e esclarecer os confusos na tua escrita, vc sabe do que eu me refiro.


    Adoro ler o que tu escreve.

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  3. Das coisas entre tempo e conquistas, entre ontens e amanhãs. No mais, a gente vive recolhendo lembranças contadas com ares de velhice nova, pra, quem sabe, ilustrar quadros futuristas. O tempo, senhor dos mistérios, é dono dos lápis de cor que a gente aponta pro céu tentando colorir as nuvens cinzas. Entre as lembranças e os anseios, a memória e a relíquia, entre vãos e ventos, está o tempo que passa bonito, remoçado na inconstância, de mãos dadas com os amores sempre jovens e distraídos, passe o tempo que passar. Porque o que tem que ficar, fica. Sem receita, sem data ou idade.

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