segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Capitão Coração

Quero saber 
Se quando pouso em sua mente
Te preencho como um céu azul
Como um mar que avança
Um rebuliço que não se cansa
Diga que dei férias ao seu cérebro
Que agora ele está em Cancun 
Que agora você é todo emoção
Tem como capitão o coração
Diga que invado suas noites
seus banhos as gavetas
os livros o drama das novelas
os jornais os quadros em aquarela
Diga que concorda com Drummond
que as tardes seriam mesmo azuis
não houvesse tantos desejos vermelhos
Diga que você tem vivido assim
Diga, fique à vontade
Não é possível
Alguma coisa me diz


Morto Alegre

Meu Deus, que susto!
O esfarrapado me sorriu,
com os olhos miúdos
de tanta cachaça

Na saída do metrô
um morto de fome
alegre

A roupa escura 
não pode mais
esconder a sujeira

De cabelos brancos
sebentos em ninho
aqueles cavacos
amarelos a apontar
Paralisar

Com seu restinho de vida 
ele me sorriu
não retribui

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Choro do abandonado

Você e esse amor tardio
Quando tudo já passou
Dorme mal, come pouco
Soprando as cinzas do que sobrou


Não adianta os teus poemas
Eu te estendi o corpo e a mão
Você dormiu, torceu meus dedos
Dizia se tratar de leviana paixão


Ouço o choro do abandonado
De longe, por entre prédios e carros
Bêbado, falante, transtornado

Você pensou, não pulou no rio
Agora não há pulo, não há rio
De que serve um amor tardio?

terça-feira, 10 de junho de 2014

Borboletas amarelas

Hoje quase ignorei a hora
Parei para admirar três borboletas 
Três grandes e amarelas borboletas
que voavam, e não sabiam, mas dançavam
dançavam liberdade no infinito azul 
Acompanhei até onde os olhos podiam 
depois continuei o voo na cabeça
Onde iriam parar? Iriam parar?
Mesmo só com esses pés
Mesmo sem asas 

O voo delas
me alegra

domingo, 25 de maio de 2014

Nuvem

Hoje não partilharei o mundo com vocês
deitarei na cama e apagarei as luzes

Hoje não quero saber de vocês
que vendem alegria e fingem não sofrer

Hoje não quero saber de vocês
que maltratam e fingem não ver
porque, afinal, a vida é dura mesmo

Hoje não quero saber de vocês
que passam por uma flor e um mendigo
sem que se abale a estrutura

Hoje não quero saber de vocês
que chutam cachorros
que chutam a si mesmos

Hoje não quero saber de vocês
que vivem para o trabalho
compenetrados em “crescer” na vida

Hoje não quero saber de vocês
potentes e fortes
por serem possuídos por seus bens

Hoje não quero saber de vocês
que não dão ouvidos às crianças
ensandecidos por ensinar

Hoje não quero saber
de ser testada, provar minhas aptidões

Hoje, quero ser uma nuvem,
vagando sem pretensão


Ser gente requer muito 

terça-feira, 11 de março de 2014

Formiga & Tiroteio

Será possível ignorar a paixão? Ou ainda que não aconteça do lado de fora, ela fica a habitar os cantos do corpo, provocando pensamentos e calafrios? Então, não seria o caso de ignorá-la, mas de negar o seu pulso fremente, que perfura e nos alegra. Será possível passar ileso, ser uma formiga em meio a um tiroteio? 

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Mãos dadas

Ninguém corre como as crianças...
De mãos dadas
sem olhar para trás
sem a certeza
nem a necessidade dela