quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Visita-me

Certas madrugadas solitárias e etílicas 
Quando a fumaça do cigarro 
Se torna densa demais
Abro as janelas de minha casa 
e abasteço-me de vento frio e fresco.

É nessa hora que entram os anjos vagabundos
bebem comigo, mexem nos meus armários, quebram minhas louças...
alguns puxam meus cabelos e fazem-me cócegas
outros afagam meu rosto, onde a barba cresce difícil e dura.

Depois rodeiam-me, cantam e compõe
não sei como, máscaras humanas. 
Fico um pouco assustado, 
mas esses emissários de Deus, 
percebendo minha palidez, amenizam meu medo.

Fazendo séries de perguntas, de indiscrições rodeios... 
antes de dizerem o que querem afinal.
Perguntam-me pelos meus sofrimentos de amor, 
pelo meu pai e pelos meus filhos.

E por mais que conheçam 
a condição miserável do homem
chego às vezes a desconfiar 
que eles me invejam...

Augusto Cerqueira

Nenhum comentário:

Postar um comentário